Nome Completo: Hércules de Miranda
Apelido/Nome de Guerra: Hércules
Local e Data de Nascimento: Guaxupé (MG), 2 de julho de 1912
Local e Data de Falecimento: Rio de Janeiro (RJ), 3 de setembro de 1982
Registros:
Ponta-esquerda, chute fortíssimo, foi um exímio cobrador de faltas em qualquer posição do campo. Tinha uma característica curiosa: seu chute mais potente em bolas paradas era com o pé direito, porém, correndo, batia melhor de esquerda.
Ganhou os apelidos de “Tanque” por seu estilo rompedor de áreas, e "Dinamitador", por seu chute excepcionalmente forte e certeiro. Tinha, segundo o cronista Geraldo Romualdo da Silva, do Jornal dos Sports, "um canhão no pé esquerdo e um míssil no direito".
Não foram muitos os que, no Brasil, ocupando a posição de ponta-esquerda, distinguiram-se pelo fato de serem artilheiros.
Correndo sempre pelo flanco esquerdo do seu ataque, Hércules transformou-se no tormento de seus marcadores, no receio constante dos goleiros e na preocupação permanente das defesas adversárias.
Aprendeu a jogar bola em São Paulo, para onde a família Miranda se mudou em 1918 em busca de trabalho e de melhoria financeira.
No bairro da Barra Funda cresceu apurando o seu estilo. Iniciou a sua carreira de jogador na várzea paulistana, onde atuou pelo Lusitana, Instituto Biológico e Pinheiros, transferindo-se para o A. A. Barra Funda, que disputava o campeonato da segunda divisão.
Depois de passar por todos esses times ingressou no Clube Atlético Juventus.
Em 1931, disputou apenas quatro dos 26 jogos disputados pelo Juventus no Campeonato Paulista de 1931. O primeiro aconteceu em 13 de dezembro, na vitória de 4 x 0 sobre a A. A. São Bento, na Rua Javari, marcando dois gols. Além desses, marcou outros três nos demais jogos que disputou. O Juventus ficou no oitavo lugar na classificação final.
Foi titular em todo o Campeonato Paulista de 1932, ainda atuando pelo Juventus. O clube da Mooca fez excelente campanha, ficando em 3º lugar no campeonato, atrás apenas de Palestra Itália e São Paulo.
Hércules participou de dez dos onze jogos disputados pelo Juventus, tendo marcado quatro gols.
Em 1933 aconteceu a oficialização dos contratos profissionais dos jogadores de futebol no Brasil. O Juventus ficou inicialmente à margem do profissionalismo. Com isso, os melhores jogadores do clube, como Brandão, Raffa e Hércules foram logo aproveitados pelos grandes clubes de São Paulo.
Foi Paulo Machado de Carvalho que levou Hércules para o São Paulo da Floresta. Com o dinheiro que recebeu, Hércules pôde comprar uma casa para sua mãe, o que foi uma das grandes alegrias de sua vida.
No Torneio Rio-São Paulo de 1933, aconteceu o primeiro gol de Hércules com a camisa do São Paulo da Floresta. Foi no dia 20 de agosto, na vitória de 3 x 0 sobre o Fluminense. O São Paulo da Floresta ficou na segunda colocação e Hércules marcou 7 gols.
Uma semana depois de marcar o primeiro gol, fez sua estréia no campeonato paulista com a camisa do São Paulo da Floresta, no dia 27 de agosto, marcando três gols na goleada de 12 x 1 sobre o Esporte Clube Sírio. No total, disputou sete jogos e marcou 8 gols. O São Paulo da Floresta ficou com o vice-campeonato.
Nesse mesmo ano, sagrou-se campeão brasileiro defendendo a seleção paulista, no Rio de Janeiro, contra os cariocas, ao marcar o gol da vitória de 2 x 1, na prorrogação.
Sua primeira participação pela Seleção Paulista aconteceu no dia 17 de dezembro de 1933, quando São Paulo venceu o Estado do Rio, por 5 x 1, com um dos gols marcados por Hércules.
Uma semana depois, nova vitória paulista, desta vez sobre a Seleção do Paraná, por 8 x 0, com mais um gol de Hércules.
Veio, então, a decisão contra os cariocas.
Era a primeira vez que Hércules se exibia perante a torcida carioca. No dia 7 de janeiro de 1934, no estádio de São Januário, onde cariocas e paulistas decidiram o título brasileiro de 1933, ele fez o gol da vitória paulista na prorrogação, depois do empate por 1 x 1 no tempo regulamentar.
Hércules foi carregado em triunfo por um grupo de marinheiros do Couraçado São Paulo.
O ano de 1934 foi o melhor de Hércules no São Paulo da Floresta. No Campeonato Paulista (em que seu clube ficou novamente com o vice-campeonato), disputou todos os 14 jogos válidos por este certame. Marcou 12 gols e tornou-se o segundo maior artilheiro da competição, ficando atrás apenas de Romeu Pelliciari, do campeão Palestra Itália, que assinalou 13.
Não participou dos dois primeiros jogos contra os cariocas, em 11 (no Rio de Janeiro) e 15 de novembro de 1934 (em São Paulo). Mas estava a postos para ajudar a seleção paulista a conquistar o bicampeonato brasileiro no terceiro e último jogo, em 18 de novembro de 1934, no estádio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro: vitória de 3 x 1 da seleção paulista.
Porém, em 1935 o São Paulo da Floresta se dissolveu, e Hércules, depois de jogar por algum tempo no E. C. Independente - time de exibição e que teve vida efêmera -, ao lado de outros craques consagrados como Araken, Friedenreich e Orozimbo. Logo que esse clube se extinguiu, seus jogadores foram atraídos por outras agremiações, a maioria por bons contratos que lhes ofereceram clubes do Rio de Janeiro. Para lá seguiram Zarzur, Raffa, Orozimbo e Hércules, que ingressou no Fluminense. Pelo seu primeiro contrato, recebeu dez contos de réis, uma boa quantia na época.
Estréia no Fluminense em 12 de junho de 1935, no amistoso interestadual contra a Portuguesa de Desportos, no Estádio das Laranjeiras, com vitória de 3 x 1.
Neste ano, o Fluminense foi o vice-campeão da Liga Carioca de Football - LCF (o América ficou em primeiro lugar) e teve o melhor ataque do campeonato com 63 gols. Hércules foi o terceiro melhor artilheiro da competição, com 13 gols, atrás de Vicentino, também do Fluminense, com 15, e China, do Bonsucesso, com 16.
Atuou pela primeira vez na Seleção Carioca em 24 de novembro de 1935, no estádio de Campos Sales, com vitória de 3 x 1 sobre a seleção do Espírito Santo.
Marcou gols nos dois jogos das finais contra a seleção de São Paulo. No dia 15 de dezembro de 1935, no estádio da Laranjeiras, no Rio de Janeiro, marcou dois gols na goleada carioca de 5 x 1. No jogo de volta, uma semana depois (22 de dezembro), no estádio da A. A. São Bento, repetiu o feito de marcar o gol da vitória de 3 x 2, consagrando-se tricampeão brasileiro. Foi esta, também, sua última participação pela seleção carioca.
Em 1936, conquistou o campeonato carioca. Na campanha, participou de todos os 18 jogos disputados pelo Fluminense, marcando 23 gols, tornando-se artilheiro do campeonato.
Sua participação foi decisiva para a conquista do campeonato. Na final, contra o Flamengo, marcou nos três jogos realizados: um no 2 x 2 de 20 de dezembro; dois na vitória de 4 x 1, em 23 de dezembro, e mais um, o do empate em 1 x 1, em 27 de dezembro.
Foi a partir deste ano que o apelido “Dinamitador” pegou.
No ano seguinte, 1937, Hércules passou a formar com Tim uma das mais famosas alas esquerdas do futebol brasileiro e o Fluminense conquistou o bicampeonato carioca com apenas uma derrota. Na campanha do segundo título consecutivo, ficou de fora de apenas um dos 22 jogos disputados pelo Fluminense. Marcou 22 gols, tornando-se o terceiro maior artilheiro da competição, atrás de Niginho, do Vasco da Gama, com 25 gols, e Caxambu, do São Cristóvão, com 24.
O tricampeonato carioca foi conquistado em 1938. Na campanha do tricampeonato, disputou quinze jogos (ficou de fora de apenas um, no dia 16 de outubro, quando o Fluminense perdeu para o Botafogo, por 3 x 0) e marcou 10 gols, um a menos que Tim, que também disputou um jogo a mais.
Também em 1938, o Fluminense, com Hércules, conquistou o Torneio Municipal.
Disputou a Copa do Mundo de 1938, na Itália, fazendo sua estréia no dia 5 de junho, na vitória de 6 x 5 sobre a Polônia.
Em 1939, o Cigarro Magnólia promoveu um concurso, no qual o torcedor deveria escolher “O Maior Craque do País”. As cédulas de votação vinham nos maços do cigarro. Hércules ficou em segundo lugar, com 121.850 votos. O vencedor foi Leônidas da Silva, do Flamengo, com 249.080 votos.
No campeonato carioca, o Fluminense ficou em quarto lugar. Foram 24 jogos, 60 gols marcados. Destes, Hércules disputou 13 jogos, tendo marcado 10 gols.
No dia 30 de junho de 1939, foi fundado no Rio de Janeiro o Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol. À reunião compareceu grande número de jogadores. Foi eleita uma Comissão Executiva provisória, que tinha como Vice-Presidente Hércules de Miranda.
Em 1940, jogando num time de grande categoria, voltou a ganhar o campeonato carioca pelo Fluminense. Foi de novo o artilheiro do time com 12 gols. Participou de 13 de um total de 24 jogos disputados pelo Fluminense.
Passou a disputar com Carreiro a posição de titular do Fluminense, duelo que vinha do tempo da Seleção Brasileira que disputou a Copa Roca (contra a Argentina) e Copa Rio Branco (contra o Uruguai) nos primeiros meses de 1940.
No campeonato carioca de 1940, seu concorrente, Carreiro, disputou 14 jogos e marcou 7 gols.
Também neste ano participou pela última vez da Seleção Brasileira. Foi em 31 de março, no empate de 1 x 1 diante do Uruguai.
No Torneio Rio-São Paulo de 1940, marcou três gols. Esse torneio deveria ter sido disputado em dois turnos. Porém, por falta de interesse dos clubes, gerada pelas baixas arrecadações e altas taxas, foi disputado apenas o primeiro turno onde Flamengo e Fluminense terminaram empatados, não havendo decisão para apontar o Campeão do Torneio.
Ora como titular, ora como reserva, assim foram seus dois últimos anos no Fluminense.
Em 1941, disputou apenas 4 jogos pelo Fluminense. Ainda assim, marcou 5 gols.
De qualquer forma, ajudou o Fluminense a conquistar o Torneio Extra e a sagrar-se bicampeão carioca
Um dos últimos gols marcados pelo Fluminense aconteceu em 17 de agosto, na vitória do Fluminense por 3 x 1 sobre o Madureira, marcando o primeiro gol do jogo.
O último jogo pelo Fluminense foi em 12 de abril de 1942, válido pelo Campeonato Carioca daquele ano, com vitória de 4 x 3 sobre o Bangu.
Foram 175 jogos com a camisa tricolor do Fluminense, obtendo 110 vitórias, 30 empates e 35 derrotas. Marcou 164 gols (média de 0,94 por jogo).
É o segundo colocado na lista dos maiores artilheiros da história do clube, com 196 gols.
Foi para o Corinthians, onde fez sua estréia em 16 de maio de 1942, num amistoso contra o Coritiba, do Paraná, com vitória de 3 x 0.
Seu primeiro gol com a camisa do Corinthians aconteceu em 7 de junho de 1942, na vitória de 3 x 1 sobre o Juventus, na rua Javari.
Ainda pelo campeonato paulista deste ano, marcou 4 gols na vitória de 9 x 1 do Corinthians sobre o S.P.R. (São Paulo Railway), no dia 12 de setembro de 1942.
Após 20 jogos, o Corinthians ficou com o vice-campeonato paulista.
Em 1943, o Corinthians foi bicampeão da Taça Cidade de São Paulo. Liderou também boa parte do Campeonato Paulista. Apesar da boa presença de Hércules, deixou o título escapar para o São Paulo, campeão pela primeira vez depois de refundado, em 1935.
Ao final de mais um vice-campeonato paulista, Hércules tornou-se artilheiro da competição, com 19 gols.
Também voltou a ser convocado para a Seleção Paulista no Campeonato Brasileiro de 1943. Nos dois primeiros jogos, contra os gaúchos, duas vitórias paulistas e quatro gols de Hércules. No primeiro, em 5 de dezembro, na vitória de 5 x 3, marcou um gol. No segundo jogo, no dia 8 de dezembro, assinalou três tentos na goleada de 5 x 0.
Estes resultados classificaram a seleção paulista para enfrentar a carioca na final do Campeonato Brasileiro daquele ano.
A decisão do certame aconteceu após cinco jogos. Hércules disputou três deles: no dia 12 de dezembro (vitória de 3 x 1), no dia 15 (outra vitória paulista de 3 x 2, com um gol de Hércules) e, por último, no dia 23 de dezembro, na goleada carioca de 6 x 1 sobre os paulistas.
Desta vez, Hércules ficou com o vice-campeonato.
Título em 1944, para o Corinthians, só mesmo o do Torneio Início. O destaque do ano ficou por conta da contratação do zagueiro Domingos da Guia. Apesar da escassez de título, Hércules foi titular na maior parte dos jogos disputados esse ano pelo Corinthians (31): nos vinte e dois jogos em que esteve em campo, marcou 12 gols.
A última vez que vestiu a camisa do Corinthians foi em 13 de outubro de 1945, num amistoso diante do Palmeiras, no estádio do Pacaembu, com derrota de 3 x 1. Saiu da reserva para substituir o ponteiro-esquerdo Ruy.
Encerrou sua carreira no Corinthians. Foram 73 jogos e 56 gols. 47 vitórias, 9 empates e 17 derrotas.
Depois que abandonou o futebol passou a trabalhar como corretor de imóveis. Afastou-se do futebol e nem tempo de ir aos estádios ver os jogos tinha. Mas continuou jogando, até 1960, pelos veteranos paulistas.
Em 1982, foi eleito o melhor ponta-esquerda do Fluminense em todos os tempos, segundo pesquisa realizada pela revista esportiva Placar, entre jornalistas, dirigentes, jogadores e torcedores.
Fontes:
1. A História Ilustrada do Futebol Brasileiro – Vol. 4
2. Almanaque do Corinthians
3. Campeonato Carioca 96 Anos de História 1902-1997.
Parabéns José Ricardo mais uma grande contribuição à memória do futebol Brasileiro.
ResponderExcluirLonga vida ao "Pequenas obras e grandes craques"
meu nome é Hércules (em homenagem ao dinamitador), pois meu pai, apesar de torcer pelo América, admirava vê-lo jogar.- Depois de adulto, vim a conhecer o meu xará e nos tornamos grandes amigos.- Confesso que não conhecia na íntegra sua brilhante carreira futebolística, o que me causou grande emoção e orgulho.-
ResponderExcluirQue legal, é meu avô
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