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sábado, 4 de dezembro de 2010

VOL III - IPOJUCAN, UM ARTISTA DA BOLA

Ipojucan Lins de Araújo nasceu em Maceió, Alagoas, a 3 de junho de 1926. A grafia correta do seu nome era Ipujucan mas ficou conhecido como Ipojucan.
Um dos maiores meia-armador do futebol brasileiro (no tamanho, quase 1,90 de altura, e na qualidade), Ipojucan ficou famoso pelos passes de calcanhar, pelos gols de falta com seu chute poderoso e pelos lançamentos de grande distância.
“Comparável a Pelé só Ipojucan”. As palavras do radialista Luiz Mendes não são elogios exagerados para Ipojucan, que também ficou conhecido no mundo do futebol como “Malabarista”.
Segundo o falecido Servílio de Jesus Filho, o grande Servílio da Portuguesa de Desportos, do Palmeiras, Corinthians e da Seleção Brasileira, ninguém fazia com a bola o que Ipojucan conseguia. “Ele foi meu técnico nos juniores da Portuguesa e mesmo tendo conhecido e jogado com o gênio Ademir da Guia, digo sem medo de errar que Ipojucan foi o jogador mais hábil que vi na vida. E olha que ele já era aposentado, quando nos ensinava a tocar na bola”.
Logo cedo Ipojucan veio para o Rio de Janeiro e não demorou para ser descoberto pelos olheiros espalhados nas esquinas suburbanas.
Foi no bairro da Piedade que ele chamou a atenção de um dirigente do River, que o convidou a jogar por lá. Mas ele não ficou muito tempo na equipe e logo se transferiu para o Canto do Rio. Também não demorou muito no clube de Niterói e passou para a equipe juvenil do Vasco da Gama, para onde foi levado em 1942, com dezesseis anos. Ficou no juvenil até 1944, quando se profissionalizou.
Na década de 40, o Vasco da Gama apresentava uma equipe de fazer inveja, em que praticamente todos os jogadores tiveram, ou teriam, passagem pela Seleção Brasileira.
No ataque, posição onde Ipojucan deveria jogar, o Vasco da Gama tinha vários craques, tais como Ademir Menezes, Lelé, Jair Rosa Pinto, Friaça, Chico e outros. Isso fez com que sua estréia no time titular demorasse por um bom tempo.
O time do Vasco da Gama que Ipojucan encontrou era tão bom que nos próximos seis anos, somente em 1946 ele não foi campeão ou segundo colocado. Foi vice-campeão em 1944, alcançou o título de campeão em 1945, voltou a vencer em 1947, ficando em segundo em 1948 e continuou sobressaindo no futebol carioca com mais um título em 1949.
A tarefa de entrar num time desses era muito difícil.
Além dos títulos no Rio de Janeiro, no começo do ano de 1948, o Vasco da Gama venceu o Torneio de Clubes Campeões Sul-Americanos, no Chile. Ipojucan não acompanhou a delegação que disputou essa competição.
Mas sua primeira oportunidade no time de cima do Vasco da Gama acabaria acontecendo neste ano.
No dia 4 de agosto de 1948, em São Januário, Ipojucan jogou na ponta-esquerda na vitória de 2 x 0 sobre o América, válido pelo campeonato carioca.
Só voltaria a jogar pelo Vasco da Gama em 5 de dezembro de 1948, no estádio das Laranjeiras, quando seu clube venceu o Fluminense, por 2 x 0, marcando seu primeiro gol com a camisa cruzmaltina. Desta vez, ele atuou na posição que o consagraria posteriormente. Não deixou escapar essa oportunidade, tornando-se titular do grande time do Vasco da Gama a partir de então.
O Vasco da Gama sagrou-se campeão carioca invicto em 1949. Em 20 jogos, foram 18 vitórias e dois empates. Ipojucan disputou 16 jogos e marcou 12 gols.
1950 foi o ano de afirmação de Ipojucan.
Defendendo a Seleção Carioca conquistou o campeonato brasileiro. No dia 16 de março, em São Januário, marcou dois gols na vitória de 4 x 0 sobre São Paulo, vitória essa que daria o título aos cariocas (os outros dois jogos terminaram empatados).
Logo depois, participou dos treinamentos da Seleção Brasileira que disputou a Copa do Mundo de 1950.
Fechando o ano com chave de ouro, tornou-se bicampeão carioca pelo Vasco da Gama. Dos 20 jogos que o clube realizou, Ipojucan esteve em 14 deles, repetindo a dose de 1949 ao marcar 12 gols.
Teve grandes atuações em dois clássicos. No dia 26 de novembro de 1950, marcou três gols na vitória de 4 x 1 sobre o Flamengo. Repetiria a dose no dia 6 de janeiro de 1951, ao marcar outros três gols no jogo Vasco da Gama 4 x 0 Fluminense.
O Vasco da Gama não fez um bom campeonato carioca em 1951, terminando na quinta colocação. Ipojucan marcou apenas dois gols.
Ipojucan recuperaria-se no ano seguinte, ao ser peça fundamental na conquista do campeonato carioca de 1952, participando de 19 dos 20 jogos disputados pelo Vasco da Gama na competição, tendo marcado 8 gols.
Ainda em 1952 foi convocado para a Seleção Brasileira que conquistou o título pan-americano do Chile. Sua estréia aconteceu no dia 20 de abril de 1952, na vitória de 3 x 0 sobre o Chile.
Foi vice-campeão brasileiro com a seleção carioca, participando de apenas um jogo, justamente o último, no dia 8 de junho de 1952, no empate de 1 x 1 com São Paulo.
Ipojucan participou de cinco jogos pela Seleção Brasileira no ano de 1953, todos eles válidos pelo Campeonato Sul-Americano disputado em Lima, Peru. Marcou o seu único gol com a camisa da seleção brasileira no dia 15 de março de 1953, o da vitória de 1 x 0 sobre o Uruguai.
Com o Vasco da Gama voltaria a fazer uma má campanha no campeonato carioca de 1953: o clube chegou na quarta colocação.
Seu último gol marcado no campeonato carioca foi em 5 de dezembro de 1953, o do empate em 1 x 1 com o América.
Sua última partida oficial pelo Vasco da Gama aconteceu no dia 10 de janeiro de 1954, em jogo válido pelo campeonato carioca do ano anterior. O Vasco da Gama foi goleado pelo Flamengo, por 4 x 1.
Transferiu-se para a Portuguesa de Desportos em 1954, onde estreou oficialmente no dia 15 de agosto, na vitória de 2 x 1 sobre o Guarani, em jogo válido pelo campeonato paulista.
No ano seguinte, ajudou a Portuguesa de Desportos a conquistar novamente o Torneio Rio-São Paulo.
Na final, em dois jogos contra o Palmeiras, o primeiro terminou empatado em 2 x 2, no dia 29 de maio de 1955. O título veio no dia 5 de junho de 1955, na vitória de 2 x 0, com o segundo gol marcado por Ipojucan.
Nos dias 23 e 25 de agosto de 1955, a Seleção Paulista enfrentou, no estádio Centenário, em Montevidéu, um combinado de jogadores dos clubes Nacional e Peñarol, que sempre formaram a base da seleção do Uruguai. Ipojucan participou dos dois jogos.
A última vez de Ipojucan na Seleção Brasileira foi em 17 de novembro de 1955, no empate de 3 x 3 com o Paraguai, pela Copa Osvaldo Cruz, conquistada pelo Brasil. Antes, havia ajudado o Brasil a levantar a Taça Bernardo O'Higgins contra o Chile.
Portuguesa de Desportos e Ipojucan passaram os anos de 1956 e 1957 sem brilharem.
No ano de 1958, aconteceu o último jogo de Ipojucan na Portuguesa de Desportos: no dia 16 de novembro, pelo Campeonato Paulista, com derrota para o Corinthians por 3 x 1.
Na Portuguesa de Desportos foram 218 jogos (101 vitórias, 43 empates e 74 derrotas), tendo marcado 52 gols.
Em 1959, tentou a carreira de técnico, mas não se deu bem. Com a saúde abalada - sofreu inclusive um transplante de rim -, Ipojucan viveu momentos difíceis.
Em 1966, enquanto treinava o Noroeste, de Bauru (SP), Ipojucan passou a sofrer de nefrite, uma doença nos rins. Ficou internado mais de quatro anos, fazendo vários exames, até que sua irmã Iraci doou o rim para ele.
Em 1970, Ipojucan fez um dos primeiros transplantes de rins na América do Sul, no Hospital das Clínicas, em São Paulo. O resultado da cirurgia foi um sucesso.
Por volta de 1977, Ipojucan voltou a ficar doente, tendo tosses estranhas e muito cansaço.
No ano seguinte, ele voltou ao hospital devido a uma disritmia cardíaca. Um dia depois de o Brasil empatar com a Argentina em 0 x 0, pela Copa do Mundo daquele ano, Ipojucan faleceu em São Paulo, após uma parada cardio-respiratória.
Era o dia 19 de junho de 1978.
Eleito o melhor meia-direita do Vasco da Gama de todos os tempos, segundo pesquisa realizada pela revista esportiva Placar, entre jornalistas, dirigentes, jogadores e torcedores, no ano de 1982.
É o quarto maior artilheiro do Vasco da Gama, com 225 gols em 413 jogos.

sábado, 20 de novembro de 2010

VOL. II - FEITIÇO, O MÁGICO DO GOL


Luís Macedo Matoso, o Feitiço, nasceu em 29 de setembro de 1901, no bairro italiano do Bexiga, em São Paulo (SP), onde passou sua infância e juventude e também começou a jogar futebol.
Surgiu para o futebol jogando na equipe amadora do Ítalo Lusitano F. C., do bairro de Pinheiros. Em 1916, fez 52 gols na temporada da várzea paulistana.
No seu tempo, ao atacante de “estilo heróico” exigia-se muito mais do que heroísmo. Entrar numa área, para o combate direto com zagueiros violentos e implacáveis, era quase uma missão suicida, à qual só se expunham os centro-avantes mais corajosos. Feitiço tinha coragem e realmente se caracterizava pelo estilo heróico, mas não firmou seu nome apenas por ser um valente brigador na zona de choque. Manhoso, versátil, tão hábil no drible curto como nas arrancadas, tinha excelente colocação na área e cabeceava com maestria.
Passou a jogar na Segunda Divisão do futebol de São Paulo e continuou sendo o mesmo artilheiro da várzea, a ponto de ser apelidado de “El Tigre da Segunda Divisão”, numa alusão a Arthur Friedenreich.
Viria a ser, o maior goleador do futebol brasileiro daquele início da década de 20 e está hoje entre os maiores artilheiros da história do nosso futebol.
No dia 4 de junho de 1922, aconteceu a estréia de Feitiço no campeonato paulista, com a camisa azul e branca da A. A. São Bento. O adversário era o fortíssimo time do Palestra Itália (vice-campeão paulista daquele ano) e a derrota foi inevitável: 2 x 0.
Continuou sem marcar gol no jogo seguinte, novamente contra um forte adversário, o Corinthians (campeão de 1922), que venceu o São Bento por 1 x 0.
Mas, no terceiro jogo, em 15 de junho de 1922, contra o Internacional, Feitiço marcou três gols na vitória de 5 x 0.
Passou alguns jogos sem marcar mas, quando voltou a fazê-lo foi com destaque. No dia 15 de novembro, diante do Portuguesa/Mackenzie, outra goleada de 5 x 0 e desta vez quatro gols de Feitiço.
Um gol na vitória de 3 x 0 sobre o Paulistano, dois gols no empate de 2 x 2 com o Ypiranga e mais dois gols na derrota de 5 x 2 para o Sírio, passaram a chamar a atenção dos dirigentes do Palestra Itália, que queriam contratá-lo a todo custo. Só que ele já tinha dado sua palavra aos diretores da A. A. São Bento e quando tentou romper o compromisso com essa agremiação, conta-se que um dos diretores do clube, que era delegado de polícia, chamou o artilheiro na delegacia e ameaçou prendê-lo se ele não respeitasse a palavra empenhada. O jogador preferiu, então, permanecer no São Bento.
Veio o campeonato paulista de 1923 e Feitiço continuou confirmando a fama de grande artilheiro. O São Bento foi o quinto colocado entre oito times e marcou 34 gols. Destes, 18 foram de Feitiço, que se consagrou, pela primeira vez, artilheiro do campeonato paulista, tendo participado de 17 jogos. O maior destaque aconteceu na goleada do São Bento sobre a A. A. das Palmeiras, no dia 16 de setembro, por 9 x 1. Feitiço marcou cinco gols.
Nesse mesmo ano de 1923, Feitiço foi campeão brasileiro defendendo a seleção de São Paulo, que venceu a seleção carioca por 4 x 0, na final do dia 28 de outubro de 1923, com três gols de Tatu e um de Feitiço.
No campeonato paulista de 1924, o São Bento foi o terceiro colocado entre os onze times que disputaram a competição. Contribuiu para isso Feitiço ter-se tornado artilheiro do campeonato pelo segundo ano consecutivo, desta vez com 14 gols, quase metade do alcançado pelo clube (30).
Não pôde repetir o feito de sagrar-se campeão brasileiro defendendo a seleção paulista, pois a final, desta vez, foi vencida pelos cariocas, por 1 x 0, no dia 21 de dezembro de 1924. Dias antes, deixou sua marca na competição ao marcar um gol na goleada de São Paulo sobre o Paraná, por 5 x 0.
Em 1925, Feitiço integrou, por empréstimo, a equipe do Palestra Itália que realizou a primeira excursão internacional de sua história, jogando no Uruguai e na Argentina. Participou dos quatro jogos realizados. No dia 8 de março, no estádio Parque Central, em Montevidéu, marcou os dois gols do Palestra Itália na derrota de 3 x 2 diante de um combinado uruguaio. Uma semana depois, 15 de março, no mesmo local, nova derrota para o mesmo combinado uruguaio, por 1 x 0.  No dia 19 de março, já em terreno argentino, mais precisamente no campo do Racing, o Palestra Itália foi derrotado pelo combinado argentino por 3 x 1, sendo o gol marcado por Feitiço. O Palestra Itália encerrou sua excursão no dia 22 de março, no estádio do Barracas, em Buenos Aires, empatando em 0 x 0 com o combinado argentino da Federação Amadora. Portanto, Feitiço marcou todos os gols do Palestra Itália.
Ao retornar ao seu clube, o São Bento, tornou-se, pela terceira vez consecutiva o artilheiro do campeonato paulista, com 10 gols. Gols estes que ajudaram ao São Bento a conquistar o campeonato paulista daquele ano pela primeira e única vez em sua história, com direito a marcar o gol da vitória sobre o poderoso C. A. Paulistano, de Friedenreich, na final do campeonato, no dia 8 de novembro de 1925.
No Brasileiro de Seleções, mais uma vez vencido pelos cariocas, disputou apenas três jogos, deixando a sua marca novamente contra o Paraná, quando marcou três gols na goleada de 6 x 1. Ficou de fora dos dois jogos da final contra a seleção do Rio de Janeiro.
No ano em que ocorreu a cisão no futebol paulista, 1926, com a criação de uma nova entidade, a Liga de Amadores de Futebol – LAF, e a realização de dois campeonatos paulistas (o outro foi o da APEA), São Bento e Feitiço tiveram atuações apagadíssimas em 1926. O São Bento foi o penúltimo (9º) colocado no campeonato da APEA, marcando apenas 9 gols e sofrendo 31 nos nove jogos disputados. Feitiço marcou apenas três gols.
Seu último jogo pelo São Bento aconteceria no dia 5 de setembro de 1926, sendo goleado pelo Auto Esporte por 5 x 0. O ano foi tão triste que o São Bento entregou os pontos (WO) de seu último jogo válido pelo campeonato paulista, contra o Santos.
Apesar do mal desempenho no campeonato paulista, foi convocado para a Seleção Paulista que disputou o Brasileiro de 1926.
Mesmo sem poder contar com os craques do Paulistano (que se filiou a LAF), São Paulo venceu o campeonato causando ótima impressão ao marcar 37 gols em 4 jogos (média superior a 9 gols por jogo). Muito contribuiu para o excelente desempenho do selecionado paulista um trio central magnífico formado por Heitor (6 gols), Petronilho de Brito (15) e Feitiço (7).
Essa superioridade fez com que o título de campeão brasileiro fosse recuperado pelo futebol paulista, com direito a vitória na partida final contra os cariocas, no Rio de Janeiro, por 3 x 2, no dia 7 de novembro de 1926. Feitiço marcou um gol na final.
Em 1927, após se desligar do São Bento, ficou mais de seis meses sem defender um clube, ganhando como prêmio dessa equipe uma carroça com a qual passou esse período trabalhando com ela, fazendo carretos e entregas em São Paulo.
No início de 1927, Feitiço conheceu o fundador do Santos, Antônio Araújo Cunha, que o convidou a ingressar no alvinegro praiano.
Feitiço estreou no Santos em 3 de abril de 1927. E começou bem, marcando um gol na vitória contra o Palestra Itália, em jogo amistoso realizado no Parque Antarctica, em São Paulo. O placar final foi de 3 x 2 e os outros marcadores santistas foram Camarão e Araken. A vitória valeu ao Santos a Taça “Cruz Azul”.
Feitiço encaixou como uma luva no ataque do Santos, formado ainda por Omar, Camarão, Araken e Evangelista. Com este ataque, o Santos surpreendeu a todos no certame da APEA com a marcação de cem gols em apenas dezesseis jogos disputados, média de 6,25 gols por jogo.
Ainda assim, ficou com o vice-campeonato, atrás do Palestra Itália. Feitiço participou de onze jogos e marcou impressionantes 30 gols, somente um a menos que seu companheiro de clube Araken, artilheiro do campeonato.
Mas nem tudo correu bem no ano de 1927. Neste ano, Feitiço integrava a seleção paulista no jogo decisivo do Campeonato Brasileiro, no Rio de Janeiro, contra os cariocas, no dia 13 de novembro. A partida estava empatada em 1 x 1 quando Bianco cometeu pênalti, assinalado pelo árbitro Ari Amarante. Houve contestação geral da equipe paulista. Um dos mais exaltados em atos de disciplina foi Feitiço. A discussão paralisou o jogo durante cerca de meia hora e, nem mesmo um pedido feito pelo então Presidente da República, Washington Luís, presente ao estádio de São Januário, fez com que os paulistas concordassem em aceitar a penalidade. Como a arbitragem se mostrou inflexível, a equipe paulista saiu de campo, enquanto Fortes batia o pênalti, dando a vitória e o título da temporada de 1927 para o Rio de Janeiro.
Diante do ocorrido, a CBD ameaçou eliminar aqueles jogadores do futebol brasileiro. Após o jogo, nos vestiários, Guilherme Gonçalves, presidente do Santos e da APEA, confirmou que dois já estavam eliminados (Tuffy e Feitiço).
Em meados de 1928, a CBD decidiu analisar pedidos de anistia em favor dos jogadores punidos e concedeu perdão a Amílcar, Pepe e Grané. Tentou perdoar também Tuffy e Feitiço, mas o Santos não consentiu. Porém, a CBD insistiu e forçou a APEA a dar anistia a todos e o Santos não teve outra alternativa senão a de liberar os dois jogadores para ingressarem nos clubes que lhes interessassem. Tuffy foi para o Corinthians e Feitiço preferiu se manter em silêncio. O Santos ainda tentou transformar a pena de Feitiço de eliminação para suspensão de dois anos, com o que não concordou a CBD.
Na verdade, a CBD estava simplesmente protegendo o atleta visando seus interesses. Ela precisava contar com os melhores jogadores da época, para formar seu selecionado que iria enfrentar, naqueles dias, a poderosa equipe escocesa do Motherwell.
No dia 24 de junho de 1928, Feitiço fez sua primeira partida com a camisa da Seleção Brasileira, marcando quatro dos cinco gols da vitória de 5 x 0 sobre o Motherwell, no estádio das Laranjeiras.
Foi por isso que Feitiço pôde voltar a jogar futebol em defesa do Santos. No seu retorno ao clube, no dia 8 de julho, o Santos goleou a Portuguesa de Desportos por 4 x 0, com um gol de Feitiço.
Ao final da temporada, o Santos ficou novamente com o vice-campeonato e Feitiço com o título de artilheiro da equipe, com 10 gols.
Feitiço não pôde disputar o Campeonato Brasileiro de 1928, que foi marcado por muitos desentendimentos fora e dentro dos gramados.
Dentre os principais acontecimentos do Campeonato Brasileiro de 1928 se destacou o da ausência da Seleção de São Paulo. Os dirigentes da A.P.E.A. já não concordavam com o paternalismo da CBD, que continuava marcando o jogo final para o Rio de Janeiro. A proposta dos paulistas era a realização de uma melhor de quatro pontos, em jogos nas sedes dos Estados que se classificassem para a final. O ultimato dos paulistas foi firme, e diziam eles que enquanto essa fórmula não fosse posta em vigor eles não participariam do campeonato brasileiro.
O presidente da CBD, Renato Pacheco, prometera estudar a proposta feita pelos dirigentes da A.P.E.A. Como a CBD não resolveu o assunto, por ocasião da reforma das suas leis, julgaram os dirigentes paulistas ver nisso uma desconsideração e resolveram que São Paulo não participaria. Assim, pela primeira vez, os paulistas estiveram ausentes do campeonato.
Em virtude da programação do Campeonato Brasileiro de Seleções e de vários jogos internacionais em 1929 (estiveram no Brasil o Rampla Juniors, do Uruguai, o Ferencvaros, da Hungria, o Chelsea, da Inglaterra, o Bologna, da Itália e o Vitória de Setúbal, de Portugal), a A.P.E.A. promoveu o seu campeonato da Divisão Principal deste ano em apenas um turno. A primeira rodada foi somente realizada em 12 de maio.
Pelo terceiro ano consecutivo, o Santos foi vice-campeão paulista. Feitiço voltou a ser artilheiro da competição, com 13 gols.
São Paulo voltou a disputar o Campeonato Brasileiro em 1929 e Feitiço voltou a marcar muitos gols. Foram 11 nos seis jogos que disputou, ficando com a segunda colocação entre os artilheiros (o carioca Russinho marcou 12).
Na final, realizada já em 1930, no dia 12 de janeiro, no Parque São Jorge, São Paulo goleou o Rio de Janeiro por 4 x 2, com um gol de Feitiço, e recuperou o título de campeão brasileiro.
O ano de 1930 foi excepcional para Feitiço. Marcou 37 gols no campeonato paulista, feito ainda inédito na história da competição. Antes dele, somente Friedenreich, em 1921, havia passado dos trinta gols em uma temporada: 33 gols. A excelente marca alcançada por Feitiço, no entanto, não permitiu ao Santos obter o título de campeão, ficando com a quarta colocação.
Não foi realizado o campeonato brasileiro em 1930. O Brasil inteiro passou por momentos de grande instabilidade política. A Revolução de 1930 foi um movimento político-militar que se difundiu por vários Estados, promovendo a derrubada de governadores e culminando com a deposição do Presidente Washington Luís pelas Forças Armadas.
Quando todos imaginavam que a marca do ano anterior ia demorar para ser quebrada, eis que Feitiço consegue a proeza de assinalar 39 gols no campeonato paulista de 1931. Esta marca somente seria ultrapassada por Pelé, em 1958, quando assinalou 58 gols.
O Santos ficou um ponto somente atrás do São Paulo, campeão paulista de 1931.
Seu bom momento o fez ser chamado para integrar a seleção brasileira que venceu a Copa Rio Branco no dia 6 de setembro de 1931, ao vencer por 2 x 0 os então campeões mundiais, os uruguaios.
A paz voltou a reinar em 1931 e foi possível o retorno do campeonato brasileiro de seleções, campeonato este que em 1931 foi marcado pela ausência de vários craques paulistas arrebatados por clubes italianos. Por outro lado, o ano foi dos mais prósperos para o futebol carioca. A perda de alguns craques foi recompensada com o surgimento de uma leva de craques provenientes dos subúrbios da cidade do Rio de Janeiro, tais como Domingos da Guia e Leônidas da Silva.
Atuando ao lado de Friedenreich, Feitiço marcou cinco gols no campeonato brasileiro de 1931. Isso não impediu que os cariocas recuperassem o título de campeão.
Sua partida de despedida do Santos foi no dia 2 de julho de 1932, contra a Portuguesa de Desportos, na vitória pelo placar de 5 x 1. Os gols foram de Feitiço, Logu (2), Mário e Victor.
Uma semana depois, o campeonato paulista de 1932 teve uma brusca parada por causa da Revolução Constitucionalista, eclodida na capital, a 9 de julho. Depois que cessaram as hostilidades, o campeonato voltou a ser disputado em 6 de novembro.
Quando começaram a falar que estava acabado para o futebol, eis que Feitiço ressurge no Peñarol, de Montevidéu, onde deslumbrou os uruguaios e foi celebrizado “Cabeza de Oro” nos três anos em que lá ficou.
Em seu primeiro ano de Uruguai, quase conquistou o título. Em 1933, Peñarol e Nacional terminaram o campeonato uruguaio com o mesmo número de pontos ganhos. Isso fez com que fosse necessária a realização de um “play-off” no Estádio Centenário para se conhecer o campeão daquele ano. Feitiço não jogou o primeiro jogo, em 27 de maio de 1934, e o placar ficou no 0 x 0. No segundo, em 2 de setembro de 1934, Feitiço jogou mas o placar novamente não foi mexido.
No terceiro e decisivo jogo, Feitiço não jogou novamente e o Nacional venceu por 3 x 2, conquistando o título uruguaio de 1933.
Em 1934, novamente o Peñarol ficou com a segunda colocação no campeonato uruguaio, três pontos atrás do maior rival, o Nacional.
O título de campeão uruguaio só pôde ser comemorado em 1935, dois pontos a frente do Nacional.
Depois de três temporadas no futebol do Uruguai, com quase 35 anos, Feitiço voltou ao Brasil, desembarcando no Rio de Janeiro para defender o Vasco da Gama. Logo na estréia marcou dois gols num amistoso em que o Vasco da Gama venceu o Botafogo por 3 x 0, em 14 de maio de 1936.
No Vasco da Gama, Feitiço continuou a mostrar a sua vocação para marcar gols, sendo destaque no título de campeão carioca de 1936, quando foi o artilheiro da equipe com nove gols, e inclusive marcando ambos os gols da vitória por 2 x 1 sobre o Madureira na decisão do campeonato, mesmo enfrentando a zaga chamada “o terror dos subúrbios”, formada por Cachimbo, o “Golias Negro” e Norival. Feitiço participou de 15 dos 16 jogos do Vasco da Gama.
Em 1936, pouco antes de completar 35 anos de idade, foi novamente convocado para defender a seleção carioca, que desta vez ficou em terceiro lugar. Marcou três gols na competição.
Sua última participação pelo campeonato brasileiro de seleções se deu no dia 21 de junho de 1936, em Porto Alegre, quando gaúchos e cariocas empataram em 2 x 2, sendo um dos gols cariocas marcado por Feitiço. Não mais jogaria por esse certame.
No ano da pacificação no futebol carioca, 1937, o Fluminense foi campeão. O Vasco da Gama ficou com a terceira colocação. Feitiço disputou poucos jogos como titular e marcou poucos gols: seis no total.
Seu último jogo com a camisa do Vasco da Gama foi bastante tumultuado. Em 19 de janeiro de 1938, nas Laranjeiras, o Flamengo goleou o Vasco da Gama por 5 x 1. Nada menos que sete jogadores do Vasco da Gama foram expulsos, um deles, Feitiço, por reclamação. O jogo não acabou antes da hora pois, naquela época, o jogador expulso podia ser substituído. Orlando entrou em seu lugar.
Ainda em 1938, mesmo já veterano, finalmente pôde defender o seu clube de coração, o Palestra Itália.
Sua estréia aconteceu na disputa pela Taça “Embaixatriz Logacomo”, em dois jogos contra o Corinthians. No primeiro, no Parque São Jorge, em 13 de maio, empate em 2 x 2. Feitiço substituiu Barrilote e não marcou. No segundo, no Parque Antarctica, efetivado pelo técnico uruguaio Ramón Platero como titular, marcou dois gols na goleada de 4 x 1.
Logo depois, o Palestra Itália conquistou o Torneio Extra (Taça Artur Tarantino). Feitiço marcou gols na vitória de 4 x 0 sobre o Ypiranga (um) e 3 x 0 São Paulo (um).
Na excursão que o Palmeiras realizou até o Ceará, entre novembro e dezembro de 1938, marcou três gols nos quatro jogos disputados.
No campeonato paulista, revezando entre o time titular e a reserva, o Palestra Itália acabou ficando na quarta colocação.
Em 1939, uma goleada de 6 x 0 para o São Paulo, ainda pelo campeonato paulista de 1938, dá início a uma verdadeira revolução. Veteranos como Jurandir, Tunga e Barrilote dão lugar a jovens como Gijo, Echevarrieta e Carlos. Mesmo com Feitiço disputando poucos jogos como titular e marcando poucos gols, o Palestra Itália sagrou-se vice-campeão paulista em 1939.
O último gol com a camisa do Palestra Itália foi marcado no dia 14 de dezembro de 1939, no Parque Antarctica, na goleada de 6 x 1 sobre o América, de Belo Horizonte (MG).
Sua despedida do Palestra Itália aconteceu no dia 3 de março de 1940, em Jundiaí (SP), no amistoso em que seu time venceu o Paulista local por 4 x 2.
No total, foram 55 jogos pelo Palestra Itália, com 28 gols marcados.
Ainda no ano de 1940, encerrou sua carreira no futebol, defendendo o São Cristóvão no campeonato carioca daquele ano. Chegou a marcar alguns gols (na derrota de 3 x 1 para o Fluminense, em 7 de julho, quando também foi expulso por “gestos descabidos”). Uma semana depois, nova derrota para o Vasco da Gama, por 2 x 1, marcando o gol do São Cristóvão, cobrando pênalti. No dia 1º de agosto, marcou o gol da vitória de 1 x 0 sobre o Bonsucesso.
Virou árbitro depois que pendurou as chuteiras, estreando em sua nova profissão no Campeonato Paulista de 1943.
O grande artilheiro Feitiço faleceu no dia 23 de agosto de 1985, junto aos amigos da Associação dos Veteranos, em São Paulo (SP).
Araken Patusca o definiu como o mais raçudo e valente centroavante que ele conheceu.
Marcou 414 gols em 18 anos de carreira.
No Santos, figura como quinto artilheiro de todos os tempos, superado somente por Pelé, Pepe, Coutinho e Toninho Guerreiro. Com 213 gols marcados em 151 partidas, ele é o jogador com a maior média de gols da história do Santos (1,41 por jogo).

Fontes:

1. Site do Santos Futebol Clube
2. Almanaque do Palmeiras
3. O Caminho da Bola 1902-1952
4. História dos Campeonatos Cariocas de Futebol 1906/2010
5. A História Ilustrada do Futebol Brasileiro – Quarto Volume

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

VOL. I - HÉRCULES, O DINAMITADOR


Nome Completo: Hércules de Miranda
Apelido/Nome de Guerra: Hércules
Local e Data de Nascimento: Guaxupé (MG), 2 de julho de 1912
Local e Data de Falecimento: Rio de Janeiro (RJ), 3 de setembro de 1982
Registros:
Ponta-esquerda, chute fortíssimo, foi um exímio cobrador de faltas em qualquer posição do campo. Tinha uma característica curiosa: seu chute mais potente em bolas paradas era com o pé direito, porém, correndo, batia melhor de esquerda.
Ganhou os apelidos de “Tanque” por seu estilo rompedor de áreas, e "Dinamitador", por seu chute excepcionalmente forte e certeiro. Tinha, segundo o cronista Geraldo Romualdo da Silva, do Jornal dos Sports, "um canhão no pé esquerdo e um míssil no direito".
Não foram muitos os que, no Brasil, ocupando a posição de ponta-esquerda, distinguiram-se pelo fato de serem artilheiros.
Correndo sempre pelo flanco esquerdo do seu ataque, Hércules transformou-se no tormento de seus marcadores, no receio constante dos goleiros e na preocupação permanente das defesas adversárias.
Aprendeu a jogar bola em São Paulo, para onde a família Miranda se mudou em 1918 em busca de trabalho e de melhoria financeira.
No bairro da Barra Funda cresceu apurando o seu estilo. Iniciou a sua carreira de jogador na várzea paulistana, onde atuou pelo Lusitana, Instituto Biológico e Pinheiros, transferindo-se para o A. A. Barra Funda, que disputava o campeonato da segunda divisão.
Depois de passar por todos esses times ingressou no Clube Atlético Juventus.
Em 1931, disputou apenas quatro dos 26 jogos disputados pelo Juventus no Campeonato Paulista de 1931. O primeiro aconteceu em 13 de dezembro, na vitória de 4 x 0 sobre a A. A. São Bento, na Rua Javari, marcando dois gols. Além desses, marcou outros três nos demais jogos que disputou. O Juventus ficou no oitavo lugar na classificação final.
Foi titular em todo o Campeonato Paulista de 1932, ainda atuando pelo Juventus. O clube da Mooca fez excelente campanha, ficando em 3º lugar no campeonato, atrás apenas de Palestra Itália e São Paulo.
Hércules participou de dez dos onze jogos disputados pelo Juventus, tendo marcado quatro gols.
Em 1933 aconteceu a oficialização dos contratos profissionais dos jogadores de futebol no Brasil. O Juventus ficou inicialmente à margem do profissionalismo. Com isso, os melhores jogadores do clube, como Brandão, Raffa e Hércules foram logo aproveitados pelos grandes clubes de São Paulo.
Foi Paulo Machado de Carvalho que levou Hércules para o São Paulo da Floresta. Com o dinheiro que recebeu, Hércules pôde comprar uma casa para sua mãe, o que foi uma das grandes alegrias de sua vida.
No Torneio Rio-São Paulo de 1933, aconteceu o primeiro gol de Hércules com a camisa do São Paulo da Floresta. Foi no dia 20 de agosto, na vitória de 3 x 0 sobre o Fluminense. O São Paulo da Floresta ficou na segunda colocação e Hércules marcou 7 gols.
Uma semana depois de marcar o primeiro gol, fez sua estréia no campeonato paulista com a camisa do São Paulo da Floresta, no dia 27 de agosto, marcando três gols na goleada de 12 x 1 sobre o Esporte Clube Sírio. No total, disputou sete jogos e marcou 8 gols. O São Paulo da Floresta ficou com o vice-campeonato.
Nesse mesmo ano, sagrou-se campeão brasileiro defendendo a seleção paulista, no Rio de Janeiro, contra os cariocas, ao marcar o gol da vitória de 2 x 1, na prorrogação.
Sua primeira participação pela Seleção Paulista aconteceu no dia 17 de dezembro de 1933, quando São Paulo venceu o Estado do Rio, por 5 x 1, com um dos gols marcados por Hércules.
Uma semana depois, nova vitória paulista, desta vez sobre a Seleção do Paraná, por 8 x 0, com mais um gol de Hércules.
Veio, então, a decisão contra os cariocas.
Era a primeira vez que Hércules se exibia perante a torcida carioca. No dia 7 de janeiro de 1934, no estádio de São Januário, onde cariocas e paulistas decidiram o título brasileiro de 1933, ele fez o gol da vitória paulista na prorrogação, depois do empate por 1 x 1 no tempo regulamentar.
Hércules foi carregado em triunfo por um grupo de marinheiros do Couraçado São Paulo.
O ano de 1934 foi o melhor de Hércules no São Paulo da Floresta. No Campeonato Paulista (em que seu clube ficou novamente com o vice-campeonato), disputou todos os 14 jogos válidos por este certame. Marcou 12 gols e tornou-se o segundo maior artilheiro da competição, ficando atrás apenas de Romeu Pelliciari, do campeão Palestra Itália, que assinalou 13.
Não participou dos dois primeiros jogos contra os cariocas, em 11 (no Rio de Janeiro) e 15 de novembro de 1934 (em São Paulo). Mas estava a postos para ajudar a seleção paulista a conquistar o bicampeonato brasileiro no terceiro e último jogo, em 18 de novembro de 1934, no estádio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro: vitória de 3 x 1 da seleção paulista.
Porém, em 1935 o São Paulo da Floresta se dissolveu, e Hércules, depois de jogar por algum tempo no E. C. Independente - time de exibição e que teve vida efêmera -, ao lado de outros craques consagrados como Araken, Friedenreich e Orozimbo. Logo que esse clube se extinguiu, seus jogadores foram atraídos por outras agremiações, a maioria por bons contratos que lhes ofereceram clubes do Rio de Janeiro. Para lá seguiram Zarzur, Raffa, Orozimbo e Hércules, que ingressou no Fluminense. Pelo seu primeiro contrato, recebeu dez contos de réis, uma boa quantia na época.
Estréia no Fluminense em 12 de junho de 1935, no amistoso interestadual contra a Portuguesa de Desportos, no Estádio das Laranjeiras, com vitória de 3 x 1.
Neste ano, o Fluminense foi o vice-campeão da Liga Carioca de Football - LCF (o América ficou em primeiro lugar) e teve o melhor ataque do campeonato com 63 gols. Hércules foi o terceiro melhor artilheiro da competição, com 13 gols, atrás de Vicentino, também do Fluminense, com 15, e China, do Bonsucesso, com 16.
Atuou pela primeira vez na Seleção Carioca em 24 de novembro de 1935, no estádio de Campos Sales, com vitória de 3 x 1 sobre a seleção do Espírito Santo.
Marcou gols nos dois jogos das finais contra a seleção de São Paulo. No dia 15 de dezembro de 1935, no estádio da Laranjeiras, no Rio de Janeiro, marcou dois gols na goleada carioca de 5 x 1. No jogo de volta, uma semana depois (22 de dezembro), no estádio da A. A. São Bento, repetiu o feito de marcar o gol da vitória de 3 x 2, consagrando-se tricampeão brasileiro. Foi esta, também, sua última participação pela seleção carioca.
Em 1936, conquistou o campeonato carioca. Na campanha, participou de todos os 18 jogos disputados pelo Fluminense, marcando 23 gols, tornando-se artilheiro do campeonato.
Sua participação foi decisiva para a conquista do campeonato. Na final, contra o Flamengo, marcou nos três jogos realizados: um no 2 x 2 de 20 de dezembro; dois na vitória de 4 x 1, em 23 de dezembro, e mais um, o do empate em 1 x 1, em 27 de dezembro.
Foi a partir deste ano que o apelido “Dinamitador” pegou.
No ano seguinte, 1937, Hércules passou a formar com Tim uma das mais famosas alas esquerdas do futebol brasileiro e o Fluminense conquistou o bicampeonato carioca com apenas uma derrota. Na campanha do segundo título consecutivo, ficou de fora de apenas um dos 22 jogos disputados pelo Fluminense. Marcou 22 gols, tornando-se o terceiro maior artilheiro da competição, atrás de Niginho, do Vasco da Gama, com 25 gols, e Caxambu, do São Cristóvão, com 24.
O tricampeonato carioca foi conquistado em 1938. Na campanha do tricampeonato, disputou quinze jogos (ficou de fora de apenas um, no dia 16 de outubro, quando o Fluminense perdeu para o Botafogo, por 3 x 0) e marcou 10 gols, um a menos que Tim, que também disputou um jogo a mais.
Também em 1938, o Fluminense, com Hércules, conquistou o Torneio Municipal.
Disputou a Copa do Mundo de 1938, na Itália, fazendo sua estréia no dia 5 de junho, na vitória de 6 x 5 sobre a Polônia.
Em 1939, o Cigarro Magnólia promoveu um concurso, no qual o torcedor deveria escolher “O Maior Craque do País”. As cédulas de votação vinham nos maços do cigarro. Hércules ficou em segundo lugar, com 121.850 votos. O vencedor foi Leônidas da Silva, do Flamengo, com 249.080 votos.
No campeonato carioca, o Fluminense ficou em quarto lugar. Foram 24 jogos, 60 gols marcados. Destes, Hércules disputou 13 jogos, tendo marcado 10 gols.
No dia 30 de junho de 1939, foi fundado no Rio de Janeiro o Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol. À reunião compareceu grande número de jogadores. Foi eleita uma Comissão Executiva provisória, que tinha como Vice-Presidente Hércules de Miranda.
Em 1940, jogando num time de grande categoria, voltou a ganhar o campeonato carioca pelo Fluminense. Foi de novo o artilheiro do time com 12 gols. Participou de 13 de um total de 24 jogos disputados pelo Fluminense.
Passou a disputar com Carreiro a posição de titular do Fluminense, duelo que vinha do tempo da Seleção Brasileira que disputou a Copa Roca (contra a Argentina) e Copa Rio Branco (contra o Uruguai) nos primeiros meses de 1940.
No campeonato carioca de 1940, seu concorrente, Carreiro, disputou 14 jogos e marcou 7 gols.
Também neste ano participou pela última vez da Seleção Brasileira. Foi em 31 de março, no empate de 1 x 1 diante do Uruguai.
No Torneio Rio-São Paulo de 1940, marcou três gols. Esse torneio deveria ter sido disputado em dois turnos. Porém, por falta de interesse dos clubes, gerada pelas baixas arrecadações e altas taxas, foi disputado apenas o primeiro turno onde Flamengo e Fluminense terminaram empatados, não havendo decisão para apontar o Campeão do Torneio.
Ora como titular, ora como reserva, assim foram seus dois últimos anos no Fluminense.
Em 1941, disputou apenas 4 jogos pelo Fluminense. Ainda assim, marcou 5 gols.
De qualquer forma, ajudou o Fluminense a conquistar o Torneio Extra e a sagrar-se bicampeão carioca
Um dos últimos gols marcados pelo Fluminense aconteceu em 17 de agosto, na vitória do Fluminense por 3 x 1 sobre o Madureira, marcando o primeiro gol do jogo.
O último jogo pelo Fluminense foi em 12 de abril de 1942, válido pelo Campeonato Carioca daquele ano, com vitória de 4 x 3 sobre o Bangu.
Foram 175 jogos com a camisa tricolor do Fluminense, obtendo 110 vitórias, 30 empates e 35 derrotas. Marcou 164 gols (média de 0,94 por jogo).
É o segundo colocado na lista dos maiores artilheiros da história do clube, com 196 gols.
Foi para o Corinthians, onde fez sua estréia em 16 de maio de 1942, num amistoso contra o Coritiba, do Paraná, com vitória de 3 x 0.
Seu primeiro gol com a camisa do Corinthians aconteceu em 7 de junho de 1942, na vitória de 3 x 1 sobre o Juventus, na rua Javari.
Ainda pelo campeonato paulista deste ano, marcou 4 gols na vitória de 9 x 1 do Corinthians sobre o S.P.R. (São Paulo Railway), no dia 12 de setembro de 1942.
Após 20 jogos, o Corinthians ficou com o vice-campeonato paulista.
Em 1943, o Corinthians foi bicampeão da Taça Cidade de São Paulo. Liderou também boa parte do Campeonato Paulista. Apesar da boa presença de Hércules, deixou o título escapar para o São Paulo, campeão pela primeira vez depois de refundado, em 1935.
Ao final de mais um vice-campeonato paulista, Hércules tornou-se artilheiro da competição, com 19 gols.
Também voltou a ser convocado para a Seleção Paulista no Campeonato Brasileiro de 1943. Nos dois primeiros jogos, contra os gaúchos, duas vitórias paulistas e quatro gols de Hércules. No primeiro, em 5 de dezembro, na vitória de 5 x 3, marcou um gol. No segundo jogo, no dia 8 de dezembro, assinalou três tentos na goleada de 5 x 0.
Estes resultados classificaram a seleção paulista para enfrentar a carioca na final do Campeonato Brasileiro daquele ano.
A decisão do certame aconteceu após cinco jogos. Hércules disputou três deles: no dia 12 de dezembro (vitória de 3 x 1), no dia 15 (outra vitória paulista de 3 x 2, com um gol de Hércules) e, por último, no dia 23 de dezembro, na goleada carioca de 6 x 1 sobre os paulistas.
Desta vez, Hércules ficou com o vice-campeonato.
Título em 1944, para o Corinthians, só mesmo o do Torneio Início. O destaque do ano ficou por conta da contratação do zagueiro Domingos da Guia. Apesar da escassez de título, Hércules foi titular na maior parte dos jogos disputados esse ano pelo Corinthians (31): nos vinte e dois jogos em que esteve em campo, marcou 12 gols.
A última vez que vestiu a camisa do Corinthians foi em 13 de outubro de 1945, num amistoso diante do Palmeiras, no estádio do Pacaembu, com derrota de 3 x 1. Saiu da reserva para substituir o ponteiro-esquerdo Ruy.
Encerrou sua carreira no Corinthians. Foram 73 jogos e 56 gols. 47 vitórias, 9 empates e 17 derrotas.
Depois que abandonou o futebol passou a trabalhar como corretor de imóveis. Afastou-se do futebol e nem tempo de ir aos estádios ver os jogos tinha. Mas continuou jogando, até 1960, pelos veteranos paulistas.
Em 1982, foi eleito o melhor ponta-esquerda do Fluminense em todos os tempos, segundo pesquisa realizada pela revista esportiva Placar, entre jornalistas, dirigentes, jogadores e torcedores.

Fontes:
1. A História Ilustrada do Futebol Brasileiro – Vol. 4
2. Almanaque do Corinthians
3. Campeonato Carioca 96 Anos de História 1902-1997.

INÍCIO DE CONVERSA

Ao criarmos este blog, não o fizemos com a pretensão de definir quem são os melhores jogadores brasileiros de todos os tempos. Sabemos, é uma missão impossível.
Um excelente “back” do passado talvez não fosse um razoável zagueiro hoje. Um grande “goal-keeper” do passado talvez não fosse um bom goleiro hoje. E vice-versa.
Nossa única intenção ao criar esse blog foi poder disponibilizar um pouco do material que fomos juntando durante toda a nossa vida de leitor e pesquisador do futebol brasileiro. Começamos com fichas individuais, passamos a pequenas biografias.
Considerando que esses jogadores aqui focalizados não tiveram as mesmas facilidades de verem suas atuações e carreiras divulgadas, resolvemos colocar algumas delas para os amigos apreciadores desse tipo de pesquisa.
Os jogadores escolhidos o foram de forma aleatória. Alguns poderão ser aqui escalados por conta de uma homenagem. Outros por simples curiosidade em saber quem foi.
Também não teremos uma periodicidade exata para postar uma nova biografia. Poderá ser uma semana como também poderá ser um dia.